Dia 8 de março e tudo o que eu quero é ser uma mulher livre. Hoje é um dia que eu quero te lembrar disso, porque em todos os outros estou lutando para sê-la.
Em todos os 365 dias de um ano vivo subindo e descendo montanhas, encarando com os pés firmes e fortes no chão os desafios e obstáculos de chegar ao cume sendo uma mulher. Às vezes o desafio é maior, porque cresci em uma sociedade que vire e mexe me trás uma ideia de que a mulher é feita para atender ao desejo do outro e não o próprio, e por isso muitas vezes me senti perdida e sem forças para seguir. Por simplesmente, às vezes, no meio de todas as demandas que me trazem eu não conseguir ouvir o que é que eu quero.
O começo da trilha é sempre o momento mais difícil. Até me conscientizar de que as minhas limitações não vem só de sabotagens internas e medos, mas também por viver em um sistema historicamente estruturado por homens, e que por isso mesmo às vezes me reconhecer nesse espaço é como abrir uma trilha nova sozinha.
Mas depois de algum tempo caminhando o corpo esquenta, o olhar vai ficando mais atento e o cansaço vai me fazendo focar em um passo por vez. É quando eu começo a enxergar meus pés, minhas pernas, meu corpo. Eu mulher trilhando o meu caminho. E eu me lembro que quero chegar ao topo, lá onde a vista é de tirar o fôlego e eu me divirta com o vento no rosto e a sensação de ter conseguido. Quando eu posso olhar para baixo e ver todos os passos que consegui dar para chegar até aqui, todas as mulheres que vieram antes de mim deixando essa trilha um pouco mais aberta para que eu a enxergasse melhor e todas as mulheres que precisei ser antes para ser a que se vê agora olhando o horizonte que desejei.
E nesse espaço que a vista abrange quero ser uma mulher livre, para usar a amorosidade, a força e energia criadora que emanam de mim da forma que eu quiser. Sem medo de me expor. Para abrir as asas e sentir o gosto do voo, o sabor de estar aberta e potente, de entrar em contato com os lugares que consigo e sou capaz de alcançar.
E depois conseguir - de tanto conseguir - guardo a vista e as cicatrizes na memória. Desço do cume, volto para casa e compartilho essa experiência com uma amiga, que talvez esteja no começo da trilha mas que você também quer ver chegando lá: mulheres livres para o seu voo.
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